segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Diário de uma Pedra Lapidada: O Raio X


Passei a enxergar a dor das pessoas ainda bem nova, penso que fui acordada por Deus para  o sofrimento alheio no tempo que passei a fazer visitas para minha mãe em hospitais psiquiátricos, até então era um mundo que eu não imaginava conhecer. Essas visitas me obrigaram a aprender coisas e a fazer coisas que eu não havia feito antes, tive que aprender andar de ônibus  sozinha , conversar com adultos sozinha, resolver problemas sozinha,  nem todas as vezes meu pai tinha tempo de me levar nas visitas, é engraçado pensar em uma criança passando embaixo da catraca do ônibus para ir a um hospital psiquiátrico  e cuidando de assuntos que naturalmente são assuntos de adultos. Quando recordo isso  penso em Jesus criança no meio dos doutores  e de como eu resolvia assuntos importantes sozinha: matrículas em cursos, pagamentos de mensalidades, consultas em hospitais, viagens com amigas ...
Na entrada do Hospital os responsáveis já tinham ordem para me deixar entrar mesmo desacompanhada, quando eu ia sozinha ver a minha mãe, o meu pai me dava dinheiro para comprar  frutas e outras coisas para que eu levasse para ela. O meu pai não era irresponsável e me ensinava como deveria proceder com a minha mãe. Ele me preparou para  viver no mundo se ele não estivesse presente. Todas as vezes que ele conversava comigo e eu pedia que  me acompanhasse  a lugares importantes ele me respondia que um dia ele iria morrer e que estava muito gordo e por isso poderia morrer a qualquer momento e eu precisaria aprender a viver sem ele, a me virar...
Eu realmente levava a sério as suas palavras, e muitas vezes quando criança levantava na madrugada e ia próximo onde ele dormia só para ter certeza que ele estava respirando. Quando  ouvia  ele roncar sabia que estava vivo, quando não ouvia nenhum barulho o cutucava e falava :- Pai? Pai? O Senhor está me ouvindo?
Quando ele acordava e me perguntava o que queria, respondia: - Nada, só queria ter certeza que o senhor está vivo e bem.
 Os pais falam algumas coisas para as crianças e não imaginam que  as crianças levam tudo ao pé da letra. Quantas vezes eu sofri antecipadamente pela morte do meu pai ou avós por causa das coisas que ele me falava...
Nessas visitas aos hospitais psiquiátricos passei a ser atingida por fortes emoções, diria emoções fortes demais para uma criança.
 Uma das cenas mais marcantes foi o dia em que cheguei ao Hospital e encontrei minha mãe com os braços roxos de tanto apanhar das demais internas.
 A minha mãe era bem magra, usava roupas do tamanho de uma criança de 14 anos, quando cheguei ao Hospital e perguntei quem tinha batido nela , ela me mostrou  mulheres bem gordas e fortes e eu chorei imensamente. Achava aquilo uma covardia e a pior das injustiças pois a minha mãe não tinha nem 40 kg. Nesse dia olhei para os seus braços frágeis e não diria que estavam roxos e sim pretos de tanto apanhar, as outras internas queriam roubar uma sandália que dei de presente para ela e ela resistiu, resistiu porém não evitou o roubo. Ela estava com os braços pretos e dopada de remédios e eu imaginei que seus braços deveriam estar fraturados e ela sem condições de falar devido a alta dosagem de remédios. Fui até as enfermeiras e pedi que a atendessem e solicitei um Raio X, elas porém negaram, afirmaram que se a minha mãe estivesse com os braços fraturados não estaria suportando a dor. Não me conformei com a resposta pelo fato dela estar dopada de remédios e chorei desesperadamente de enfermeiro em enfermeiro solicitando um Raio X. Lá estava eu com 12 anos de idade solicitando aos prantos um raio X de funcionário em funcionário no Hospital, nesse dia aprendi a interceder  por alguém indefeso. 
Interceder por alguém indefeso, sem condições de se defender e em situação de injustiça, foi assim que Deus começou a me ensinar a interceder pelos mais fracos e pelos indefesos, chorei imensamente por uma pessoa mais fraca e depois chorei por muitos outros em situação de injustiça e indefesos que encontrei pelo meu caminho.
 Não podia só chorar eu teria que agir, me deparei inúmeras vezes por bloqueios e situações de injustiça  e teria que arrumar forças para resolver o problema. Finalmente consegui chamar uma enfermeira para ir até ela, eu queria mudá-la de Ala, queria um raio X, queria ir embora e deixar ela bem, queria ter certeza que não seria mais agredida.
Nesse dia quando sai do Hospital, me encostei no muro, cai no chão e chorei sem forças pois a imagem de mulheres gordas agredindo a minha mãe, imagem de loucos correndo nus na outra ala, imagem de internos vindo até mim me confundindo com seus familiares ,me chamando de filha, mãe, tia ,irmã  eram forte demais para mim. Eu não suportava ver um interno chegar até mim e me confundir com seus familiares, eles achavam que as frutas que eu levava para minha mãe seria para eles.

 Foi aí que passei a fazer a obra de Deus pois nessas visitas passei a levar frutas para os outros internos e visitá-los como se eles também fossem da minha família. A minha mãe comia bem pouco e eu levava muitas frutas então distribuía quase tudo com o restante dos internos. Ao invés de ter medo dos internos Deus fez nascer em mim um sentimento de misericórdia, depois de um tempo eu não conseguia mais ir para esses hospitais com coisas só para minha mãe, levava cachos e cachos de bananas, sacolas de frutas , tudo com o dinheiro que o meu pai me dava...

Uma realidade que eu tive que conhecer, que Deus me apresentou, a realidade existente  dentro de um sanatório... 

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Diário de uma Pedra Lapidada: As coisas e os lugares humildes.

Nasci no Rio porém cresci em um estado onde não havia muita perspectiva de vida e de crescimento, a cultura era a do crescimeno por meio da Educação, que na minha infância só era de qualidade nas  escolas particulares e raramente em algumas escolas da prefeitura. Na  minha infância o Piauí era o Estado mais pobre da Federação. Sou do tempo em que o Piaúi nem aparecia no mapa em algumas divulgações e na previsão do tempo de alguns jornais, o que causava revolta nos piauienses. Hoje porém a realidade é outra, pois o Estado subiu algumas posições em relação a outros estados brasileiros e já apresenta um índice de desenvolvimento bem melhor.

Vejo que a minha vida tem tudo haver com os propósitos e escolhas de Deus, Ele escolheu o Estado mais pobre da federação para que eu pudesse crescer, justamente o estado que nem aparecia no mapa.  Deus tem escolhas humildes para vida dos seus eleitos, foi assim com Jesus: 

"E tu Belém Efrata,  de maneira nenhuma é  a menor das cidades pois de ti sairá o meu guia que apascentará o meu povo, Israel." Matheus 2.6 

Belém, a menor das cidades também era a cidade do Rei Davi:
"José também subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, para a Judéia, a cidade de Davi,chamada Belém, por ser ele da casa e família de Davi." Lucas 2.4

Jesus nasceu em uma manjedoura e não em um palácio, mesmo sendo rei, e isso porque Deus queria dar exemplo de humildade no nascimento do seu filho. 
Crescer em uma casa humilde feita de barro e em um estado pobre foi a escolha certa de Deus para que depois pudesse glorificar o seu nome na minha vida.

Veja que Deus escolhe as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar os fortes; e escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus.  Esta é a vocação dos santos.

Dificilmente alguém que sabe de sua origem humilde e que foi levantado(a) por Deus deixará de dar a glória devida a Ele. 
Deus continua o mesmo de sempre, nas suas escolhas não dá preferência aos de nobre nascimento, nem a poderosos, nem a sábios segundo a carne  mas escolhe segundo critérios contrários aos existentes no mundo.
E este é o verdadeiro ensino segundo o Espírito Santo.

Vejo Deus falar pela minha vida, assim como  vejo ele falar muitas vezes pela vida dos profetas que existiram no passado.
Como Deus é sábio, como ele reduz a sabedoria deste mundo a nada. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.
Sei que Deus age assim para que a nossa fé não venha se apoiar em sabedoria humana e sim no ensino de Deus.

As coisas e os lugares humildes escolhidos por Deus na minha vida não configuram motivo de tristeza mas sim de alegria, alegria em saber que a palavra dele se cumpriu na minha vida. A certeza da minha vocação, a certeza da escolha de Deus. A alegria de me encaixar perfeitamente na descrição dos escolhidos, não há alegria maior que esta. Não há alegria maior do que ver o cuidado, a  escolha, o preparo e a condução que Deus deu para minha vida.









sábado, 17 de outubro de 2015

Diário de uma Pedra Lapidada: Uma mãe para cada um

Como Deus é fiel , não poderia nos deixar eternamente órfãos, se  Jesus, mesmo para aqueles que possuem pai e mãe deixou o Espírito Santo a fim de que não ficássemos  órfãos o que  faria na vida de alguém que teve uma perda importante  de uma forma repentina ? Não digo perda no sentido de morte mas  no sentido do exercício da função de uma mãe em nossas vidas.
Como Deus é fiel ele providenciou e preparou uma mãe para cada um.  Meus irmãos  e eu tivemos cada um uma mãe diferente.
A minha só chegou após um incidente que me traumatizou profundamente. Quando ainda morava na minha “casa de chocolate” aconteceu uma tragédia em plena semana natalina.
Todos os anos era costume o meu pai comprar presentes, roupas e calçados antes do natal. Neste ano ele também tinha acabado de comprar  uma TV colorida pois a nossa TV antiga ainda era  preto e branco. As roupas eram compradas na quantidade adequada para o ano todo, eram as roupas das festas de fim de ano e também as que usaríamos para ir a escola e para sair e os presentes eram geralmente aquilo que pedíamos o ano inteiro, o que seria uma gratificação pelo bom comportamento e pelas boas notas na escola.
Minha mãe decidiu passar o natal na casa de um de seus irmãos, Tio Dedé (meu único tio que é evangélico, da Igreja Adventista do 7º Dia) e decidiu não somente passar o natal  mas as férias, sendo assim arrumou todas as nossas roupas novas, roupas velhas, presentes e calçados e colocou em bolsas a fim de que pudéssemos  ficar o tempo que fosse preciso na casa do nosso tio, detalhe : ela não deixou nenhuma roupinha nas nossas gavetas. Na noite que antecedia a nossa partida minha mãe teve uma crise e por causa disso  saiu de casa na madrugada, acendeu todas as luzes e deixou todas as portas abertas , o meu pai  estava a dormir  na casa da minha avó, que ficava no mesmo bairro, pois minha mãe o havia expulsado de casa devido uma crise. Você já deve imaginar o resultado, nesta mesma noite ladrões invadiram a minha casa e levaram tudo que tínhamos. A TV nova, recém-comprada, as bolsas com roupas e presentes, e alguns eletrônicos pequenos, levaram tudo, ficamos sem nada. Eu e meus irmãos estávamos dormindo, não vimos nada.
Na manhã seguinte (ainda madrugada) ao roubo fomos acordados pelo dono do comércio da esquina que passou na rua para comprar pão e achou estranho  as portas e janelas abertas e todas as luzes acesas naquele horário. Acordamos e percebemos que havíamos sido furtados. Fomos chamar nosso pai que ficou desesperado, o passeio claro foi cancelado e eu fiquei com trauma de dormir na minha casa pois comecei  achar  que a minha casa era insegura.
A partir deste dia eu passei a dormir escondido na casa das minhas melhores amigas vizinhas pois aos meus olhos eram casas mais seguras visto que construída de tijolos.
Demorou  poucos dias para meu tio que morava em frente descobrir e preocupado comigo  pois tinha receio de alguém me molestar me convidou para dormir na casa dele.
 Como a casa dele era pequena e só possuía um quarto eu dormia na sala e tinha que acordar bem cedo. Meu tio então resolveu falar com a minha avó para que eu fosse dormir na casa dela. Foi aí que eu ganhei uma nova  mãe, a minha avó.
 De início a ideia era a de que eu apenas dormisse e pela manhã fosse para minha casa para observar e ajudar minha mãe e meus irmãos  porém depois de uns dias eu passei a morar de vez com a minha avó.
Passei a ter novamente a proteção e o cuidado materno  pois como todos sabem avó é melhor que mãe, e a minha mãezinha sempre foi muito boazinha para mim.

Com os meus irmãos não foi diferente, o Lucas foi praticamente adotado pela sua madrinha Rosário( que faleceu recentemente) porém continuou morando com a minha mãe, ela ajudava o Lucas em tudo, no que ele precisava, qualquer coisa, ajuda financeira, qualquer tipo de ajuda, lá estava a Dona Rosário pronta para ajudar o Lucas, ela foi bem melhor que os meus familiares para ele. Tudo que o Lucas precisava ele falava:- Vou pedir pra minha madrinha. A minha tia Zélia também é considerada por ele como mãe pois  ele morou com ela um período e ela sempre o ajudou.

O Leonardo  também foi adotado pela mulher do meu tio, Ceiçinha Medeiros, que também é sua madrinha, a Ceiçinha era uma das melhores amigas da minha mãe antes dela adoecer e após a doença continuou a ser pois assumiu o cuidado pelo Leonardo , viajamos para o Rio de janeiro e o deixamos  com ela, ele morou um tempo com a Ceiçinha e depois também morou com a minha avó. O Leonardo teve que receber um acompanhamento maior e  teve inclusive  que  ser levado para morar com meu pai até ir para a Universidade , esse acompanhamento  aliado as minhas orações foi necessário para que ele se tornasse um homem de bem...





sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Diário de uma Pedra Lapidada: Como Deus mudou o meu nome

Deus começou a cumprir as suas promessas em minha vida ainda no ventre materno, ainda bebê.Eu pude vivenciar na minha vida a mesma experiência que os homens e mulheres de Deus tiveram ao receber de Deus um novo nome :'As nações verão a tua justiça, e todos os reis, a tua glória; e serás chamada por um nome novo, que a boca do Senhor designará' Isaías62.2
Então eu tive 02 nomes um no ventre materno e um fora do ventre materno. 
Quando o meu pai soube da gravidez da minha mãe se prontificou na escolha de um nome, ele escolheu "Luciara" que significa iluminada ou cheia de luz, ele escolheu este nome  primeiramente porque queria um nome com a letra "L" para combinar com Lucas, meu irmão mais velho, depois porque esse era o nome de uma de suas alunas preferidas e também a mais inteligente, várias vezes  ele me falou, insatisfeito com o meu nome atual ,que Luciara era o nome de uma de suas alunas, uma que só tirava nota 10, e  que por isso ele havia escolhido este nome para mim. A minha mãe concordou com o nome e na gravidez esse era o meu nome. Após a viagem da minha mãe e ao chegar ao Rio de Janeiro ela permaneceu com a idéia de que o meu nome seria Luciara para agradar ao meu pai porém  Deus permitiu que uma estéril ( uma mulher que já tinha tentado ter um filho por diversas vezes e não conseguia) viesse  escolher o meu nome. Então  posso afirmar que "Eu sou a primeira filha de uma estéril". E você deve se perguntar ; Como você pode ser a primeira filha de uma estéril se a sua mãe já tinha filho(s)? Então eu  explico. 
Na época da gravidez da minha mãe a minha tia Rose não conseguia ter filhos, era estéril, e ter um casal de filhos era o seu grande sonho, ela falou para minha mãe que se pudesse ter um casal de filhos eles se chamariam Débora e Diego( que  veio a ser o nome do meu primo que nasceu depois, pois Deus abençoou a minha tia e fez da estéril mãe de filhos), após o nascimento do Diego a minha tia Rose não pode mais ter filhos pois retirou um orgão do aparelho reprodutor e já não podia mais menstruar. 
Então eu sou a primeira filha de uma estéril pois foi a minha tia que escolheu para mim o nome que daria a sua filha, eu sou a primeira porque nasci antes do Diego. Minha mãe comovida com a minha tia e grata pela ajuda resolveu desobedecer o meu pai e colocar-me o nome que a minha tia escolheu, "Débora", hebraico( abelha), bíblico(juíza e profetisa de Israel). O meu pai não gostou nem um pouco dessa mudança de nome pois nem imaginava os planos que Deus tinha para minha vida e também não imaginava que eu havia sido escolhida por Deus no ventre materno. A minha tia Rose por diversas vezes na minha infância pediu-me para minha mãe, ela me queria como filha porém minha mãe resolveu não me entregar  para ela pois Deus precisava que eu passasse exatamente o que passei para que pudesse ser útil no futuro a sua causa. Na infância cheguei a morar com a minha tia por um pequeno período de tempo e pude ver o quanto ela teria sido uma boa mãe para mim, ela realmente teria sido uma excelente mãe ...
Hoje quando olho para o meu nome completo posso entender o seu significado espiritual e também entendo que foi escolhido por Deus: Débora Batista Assunção( juíza e profetisa de Israel que anuncia e prepara os caminhos do Senhor e a subida aos céus ou juiza e profetisa de Israel do batismo e da subida aos céus),  por subida aos céus eu entendo arrebatamento da igreja de Cristo, é isso que significa o meu nome completo, representa extamente o propósito divino que Deus tinha e tem para minha vida...

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Diário de uma Pedra Lapidada: Como me tornei mãe da minha mãe III

Enquanto eu ficava orfã de mãe viva o meu pai se encarregava de tomar as providências devidas para que pudessemos ficar um pouco mais estruturados. Nesta época apesar de trabalhar muito ,pelo menos os três turnos dando aulas, ainda morávamos em uma casinha de pau-a-pique, com 02 quartos,02 salas, cozinha e banheiro, uma das últimas que existiam na cidade pois esse tipo de casa foi sendo aos poucos abolida da capital. A nossa casa era uma raridade e morar numa "casinha de chocolate" como costumava falar não era nada legal. Não éramos miseráveis mas essa era a imagem que a nossa casa passava para quem a olhasse. Por muitas vezes éramos dignos de dó pois quando chovia forte, o que não é comum no nordeste, sempre caia alguma das paredes e o meu pai se prontificava em colocá-la de pé novamente . Eu e meus irmãos estudávamos em escola particular mas viviamos em uma casinha de barro, comiamos bem, tinhamos brinquedos porém...
Era  engraçado ver uma secretaria do lar, doméstica, trabalhar em uma casinha de barro, e nós tivemos pelo menos 03 antes que a minha casa fosse construída, meu pai não podia nos deixar sozinhos e  minha mãe após adoecer continuou morando conosco embora ficasse períodos internada ou em viagens para casa de familiares, as suas maiores crises foram com sintomas de viagens repentinas,  o meu pai tinha que arcar com as despesas das várias viagens que a minha mãe inventava. Passamos um período assim porém devido a doença que só piorava a minha mãe já não aceitava mais o convívio de pessoas estranhas a família e tivemos que despedir a empregada, foi exatamente este o momento que passei a ser mãe da minha mãe. Como não tinha mais ninguém em casa para nos ajudar o meu pai me deu tarefas diárias de vigilância e também de muita responsabilidade. Eu tinha que olhar torneiras para que não ficassem abertas, tinha que olhar o gás para que não houvesse explosão na casa, tinha que desligar as luzes, tinha que fechar as portas pois a minha  mãe deixava tudo aberto, tinha que obedecer a minha mãe mesmo doente e tinha que me sacrificar para ser uma boa filha. Nesta época já estava com  08 anos e passei a deixar de fazer as refeições principais de uma forma correta, tomava café da manhã no café ,café da manhã no almoço e café da manhã no jantar pois a minha mãe só fazia isso para comermos. Nos obrigava a tomar café com leite com bolo, nescau com biscoito, nescau com cuzcuz, café com leite com tapioca etc...  Eu tomei tanto café com leite que não aguentava mais, até  abusei...
Como ainda não sabia cozinhar fiquei adepta do miojo com calabreza, o meu pai trazia várias unidades deste alimento não tão saudável e eu fazia isso para comer antes de ir para a escola, para mim estava ótimo, até aprender cozinhar foi isso que eu comi.Quando estávamos com muita fome passávamos na casa da minha avó ( a mãezinha, chamada assim carinhosamente por todos os netos e depois também pelas minhas amigas) para almoçarmos.
Minha mãe só piorava, passou a andar com panela na cabeça e ia nos buscar na escolinha com essa panela na cabeça, as outras crianças me apelidaram de menino-maluquinho e quase todos os dias minha mãe enviava bolo queimado na lancheira e suco arripunando( muito doce, com muito açuçar). Eu abria a lancheira e jogava o lanchinho no lixo, abri uma continha na cantina da escola.Colégio Cecília Meireles, lembro até hoje da minha escolinha, como os diretores e os professores nos ajudavam... Quantas vezes a diretora(o) desta escola levou o meu irmão Leonardo em casa pois esquecíamos de buscá-lo, eu ás vezes esquecia de buscar o meu irmão, o coitadinho ficava pelo menos umas 02 horas após o término da aula esperando ou esperava  até fechar a escola, quando os diretores o levavam para casa. Criança cuidando de criança já viu né ? Até eu assimilar as atividades que estavam sob minha responsabilidade demorou um tempinho...



quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Diário de uma Pedra Lapidada: Como me tornei mãe da minha mãe II

O médico havia me desenganado e isso teve um motivo específico, o mesmo motivo que Deus permite que as pessoas cheguem ao fundo do poço ou ao limite de suas forças, Deus permite o desengano para que o homem quando Deus se manifestar dê a  glória devida  a ele, pois caso contrário os homens confessariam que suas vitórias resultam  de seus méritos ou do trabalho e da força do seu braço, eu fui desenganada duas vezes uma quando bebê por um médico profissional e outra já adulta por médicos espirituais, fui desenganada por pastores quando fiquei sem vontade de ir a igreja e em ambas as vezes Deus se manifestou e me deu vida quando fui desenganada de morte.  Assim é Deus ele se manifesta quando o homem dá o parecer e o laudo contrário. Deus escolhe-nos primeiro, não somos nós que o escolhemos. Ele já havia me escolhido no ventre materno como um instrumento da manifestação da sua glória e por isso eu vivi, como minha mãe fala eu peguei no peito e vivi. Não sabia  o que me aguardava no futuro e  de como eu teria que ser mais forte na minha vida do que tive que ser no meu nascimento. Essa e algumas atitudes da minha mãe para comigo ficaram marcadas na minha memória e sempre quando em momentos difíceis eu tinha que lutar por ela me lembrava que ela fez um sacrifício para que eu nacesse bem e que se não fosse por ela não estaria viva. A minha vida de filha durou 07 anos depois disso passei a ter que ser mãe da minha mãe e a amadurecer precocemente. Quando olho para mim vejo que sempre fui precoce, fui obrigada a ter atitudes de adulto antes do tempo, até falo que a minha infância durou apenas 07 anos e que por isso hoje ,depois de adulta, me vejo tendo atitudes de criança, me tornei mais criança depois de adulta...
Nesta época aos 07 anos minha mãe já com 03 filhos adoeceu, teve primeiramente graves problemas espirituais o que depois desencadeou em uma esquizofrenia que parecia incurável e sem retorno.
Eu tive que me conformar com a situação pois fui induzida a isso pelo meu pai que nas muitas vezes que falava comigo me lembrava: -A sua mãe é louca. A repetição prolongada desta frase soa como alienação parental e eu tive que manter o meu amor por ela independente do que eu ouvia e independente da discriminação sofrida. O laudo da minha mãe também não foi aceito facilmente pela família dela, a primeira vez que ela foi internada em um hospital psiquiátrico ocasionou um choque imenso na minha tia Rose que viajou de avião imediatamente até onde ela estava pois não acreditava que a irmã estivesse nesta situação, chegou na minha casa chorando e repetindo várias vezes -a minha irmã não é louca, isso é inaceitável, ele sempre foi normal. Eu me recordo da minha mãe antes desta doença, ela era perfeita mãe, cuidadosa, boa dona de casa, uma mulher que enxugava os pés do meu pai com a toalha e levava comida no prato nas mãos dele sem que ele precisasse fazer nenhum esforço e era também muito boa e caridosa, gostava de ajudar os necessitados e dar esmolas. Ela também tinha alguns principios morais fortes pois me lembro que ela pedia quase todos os dias para casar com meu pai no cível e na igreja católica pois havia casado na igreja católica ortodoxa( pois o divórcio do meu pai ainda estava em andamento). Lembro-me dela falando várias vezes- Esse casamento não valeu nada. E esse era o único motivo das brigas entre ela e o meu pai, o meu pai por sua vez afirmava não ser possível casar com ela na Igreja Católica pois nesta instituição religiosa só se casa uma vez e isso causava grande amargura nela que acreditava que o único casamento válido seria o feito nesta instituição romana...

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Diário de uma pedra lapidada: Como me tornei mãe da minha mãe I

Vou começar o meu diário contando como Deus inverteu um papel importante na minha vida, a história de como me tornei mãe da minha mãe ainda sendo criança e de como as poucas recordações do que ela me contava  na infância fez-me ter amor por ela e me incentivou a prosseguir e permanecer com este amor mesmo quando ela tinha para comigo atitudes de ódio e desprezo. Para que todos entendam melhor como pequenos gestos do que ela realmente é permaneceram marcados na minha memória vou contar a história do meu nascimento e de como ela teve fé mesmo sem conhecer a Deus para lutar por mim. Eu nasci bem doente, embora não fosse prematura, nasci na época certa, no lugar certo, isto é na maternidade, mas com o peso errado e também com má formação nos ossos. Isso não teve relação com falta de cuidados pois a minha mãe até viajou da sua cidade natal para o Rio de Janeiro para descansar na gravidez, fazer um bom pré-natal e obter ajuda da minha avó e da minha tia.  A minha mãe devia ser alguém bem comunicativa e também alguém que de certa forma atraia para si atenção e ajuda de todos ao redor, digo isto porque ela ganhou do médico que fez o meu pré-natal quase todo o meu enxoval, isto mesmo, quem me deu o meu enxoval de bebê foi o meu médico pediatra, a outra pequena parte  a minha tia e o meu pai, a boa mão de Deus já estava presente comigo desde o  meu nascimento então ganhei presentes ao nascer.
Como  passei do tempo na encubadora e não peguei peso o meu médico me deu para minha mãe com a seguinte frase: -Olha ela não vai viver pois não pegou peso e não se recuperou, para evitarmos o prolongamento de uma manutenção inútil no hospital  a senhora pode levar a menininha para morrer em casa. 
 A minha mãe entrou em choque e me levou nos braços chorando para casa,  disse pra mim quando criança que chorou muito e pediu ajuda de Deus pra que eu pegasse no peito, segundo minha mãe a minha avó materna já havia desistido de mim e já estava feliz com a notícia pois  odiava o meu pai e não queria que a minha mãe permanecesse neste casamento, mais um filho(a) seria um motivo que a obrigaria a permanecer casada. Alguém pode pensar mas ela fez apenas o necessário por vc, fez o que todas as mães fariam porém eu não vejo assim , ela fez mais que o necessário pois saiu de um estado para o outro com o meu irmão , na época com 01 aninho e ficou longe do seu marido por quase 01 ano só para que eu pudesse nascer bem, ela fez um sacrifício para que eu pudesse viver, e mesmo assim eu quase morri. Isso mesmo ela sacrificou para que eu pudesse nascer. Talvez se ela tivesse ficado no seu estado não receberia a ajuda e os cuidados devidos e talvez  não conseguiria manter esta gravidez ... A minha mãe fez o que Maria fez para Jesus nascer, saiu de um estado para o outro, só que ela não tinha José, ou seja o meu pai do seu lado na gravidez, ela foi como se fosse mãe solteira mesmo sendo casada e recebeu ajuda  como se fosse uma mulher desamparada, então eu posso afirmar que eu nasci de um sacrifìcio que a minha fez...